A saga dos cães perdidos
4No livro A saga dos cães perdidos, o autor Ciro Marcondes Filho relata a história do jornalismo desde os seus primórdios até os tempos atuais. No decorrer dos sete capítulos o foco é o profissional dessa área, o jornalista, que é comparado a um cão que perdeu o seu faro na atualidade.
A ideia principal do livro é mostrar o que aconteceu com os jornalistas que, com o passar do tempo, perderam a posição de analistas dos fatos do mundo e o olhar crítico durante a apuração das informações. A parcela maior de culpa é direcionada a entrada das novas tecnologias, como a internet, no processo de elaboração da notícia, pois o jornalista deixou de ser um observador do mundo ao seu redor, para passar o dia sentado em frente ao computador, usando esse meio para falar com suas fontes e escrever suas matérias.
“[...] Bom jornalista passou a ser mais aquele que consegue, em tempo hábil, dar conta das exigências de produção de notícias do que aquele que mais sabe ou que melhor escreve” (MARCONDES, 2002, p. 36[1]).
O mercado exige do jornalista rapidez na produção das notícias, técnicas textuais que mais servem para embelezar e agradar os anunciantes do que melhor informar a sociedade. Os textos perderam a profundidade, agora são rasos, com uma pesquisa básica e com uma formato que serve para entreter o leitor, o mais importante é a estética e não o conteúdo. A imprensa, com o passar do tempo, perdeu o seu papel de grande olho da sociedade, aquele que fiscaliza, cobra e ajuda a mudar o que está errado. Sua preocupação aos poucos foi direcionada para o gosto dos anunciantes, o jornalista tem que se enquadrar nas necessidades mercadológicas e no posicionamento do veículo. Assim, sua visão é condicionada a dar maior importância para determinado fato e pouca, ou nenhuma, atenção para outros.
As empresas de comunicação preferem buscar as informações em agências de notícias e assessorias de imprensa do que dar estrutura para um repórter ir a campo apurar os fatos. E esses comunicados fornecidos, quando publicados, confundem-se com reportagens, pois grande parte dos leitores, pela falta de conhecimento, não tem a capacidade de diferenciar uma coisa da outra. O que prevalece é a quantidade de informações e não a qualidade, o objetivo é o lucro, e este é mais um motivo que leva a falta de profundidade nos textos. Além do excesso de informações causarem a desinformação, o leitor, após receber grande quantidade de notícias, se sente informado, mas com o passar do tempo, se for conversar com alguém sobre o que teve acesso, não terá a capacidade de argumentação, pois o que recebeu foi raso.
Como é citado no livro: “o bombardeio informativo narcotiza o receptor, para torná-lo indiferente a própria notícia”; (MARCONDES, 2002, p. 113).
Apesar de Ciro Marcondes Filho ter uma visão realista do que se transformou o jornalismo, o seu posicionamento me pareceu um tanto quanto pessimista também. Ao meu ver, para esses “cães”, perdidos da “matilha” – que seriam as raízes do jornalismo, voltarem a ter um papel realmente importante dentro da sociedade, com a função de informar e com a mente voltada para a melhoria do que está incorreto, basta equilibrar as necessidades mercadológicas. Com as novas tecnologias, no caso a internet, acrescentar mais pesquisa dentro dos seus textos, com um olhar crítico de análise, e colocar esse pacote para funcionar aos poucos. Além de não esquecer que hoje em dia todos podem formar opinião pública, então o jornalista tem a obrigação de cumprir esse papel com qualidade e com um diferencial, a profundidade.
[1] MARCONDES Filho, Ciro. A saga dos cães perdidos, 2º edição, São Paulo: Hacker Editores, 2002
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